Há exatos 20 anos, o Liverpool, um dos clubes mais tradicionais do mundo, vivia o seu dia mais trágico. Em 15 de abril de 1989, 96 torcedores da equipe morreram pisoteados e esmagados na partida contra o Nottingham Forest, pela semifinal da Copa da Inglaterra, no estádio de Hillsborough, em Sheffield. O triste episódio, que rende homenagens todos os anos na cidade de Liverpool, foi o ponto inicial para uma série de mudanças e uma verdadeira revolução no futebol inglês.
TRAGÉDIA FOI DECISIVA PARA A 'REVOLUÇÃO' DO FUTEBOL INGLÊS |
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Duas décadas após a tragédia em Hillsborough, o Campeonato Inglês é um dos torneios mais seguros, atrai os melhores atletas do mundo que desfilam em estádios modernos, até mesmo quando jogam na casa de clubes pequenos. A Premier League, como a primeira divisão inglesa foi batizada em 1992, possui acordos lucrativos para transmissão televisiva ao redor do planeta.
Em segurança, o jogo entre Liverpool e Nottingham Forest também foi marcante. "Hillsborough tem efeito em todas as mudanças que fizemos sobre segurança de multidões. O modo que agendamos as partidas, que nos organizamos caso aconteça algo de errado e de distribuir os policiais dentro de campo foi definido de acordo com aquela tragédia", comenta David Triesman, presidente da Federação Inglesa de Futebol.
Atualmente, não há grades entre os fãs e os jogadores dentro de campo, mas, se alguém tentar invadir o campo, será retirado do estádio e proibido de comprar ingressos para futuros eventos esportivos. A torcida também é vigiada por sofisticadas câmeras, que são capazes de identificar os responsáveis por uma possível confusão. "Fizemos a mais profunda mudança que foi possível", diz o dirigente.
Triesman não acredita em um novo episódio tão grave na Inglaterra, apesar de ressaltar que muitos outros países ainda não aprenderam com o caso de Hillsborough. "É difícil ver uma tragédia desse tipo acontecer novamente, não só por causa da qualidade dos estádios, mas também pelo que a polícia aprendeu sobre mecanismos de segurança", encerra. |
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As cenas de Hillsborough geraram efeito imediato na Federação Inglesa de Futebol. Os dirigentes exigiram mudanças na gestão dos estádios, na segurança do torcedor contra os
hooligans e na profissionalização dos clubes e das ligas. Além do investimento em treinamento para a polícia, uma legislação dura foi criada para evitar atos de vandalismo.
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Enquanto dirigentes e políticos se mexeram, o clube e seus torcedores também fizeram a parte que lhes cabia após a tragédia, que ocorreu quando uma multidão de torcedores forçou uma das portas do campo e invadiu as escadarias de Hillsborough. "Eu participei da missa no ano passado, e estarei presente novamente neste ano. A missa acontece todos os anos e tem a participação dos jogadores e comissão técnica, além dos torcedores", destaca Lucas, volante do Liverpool, em entrevista por e-mail ao
UOL Esporte.
Os
Reds se negam a entrar em campo no dia do desastre e dedicam a data exclusivamente para homenagens às vítimas. O
jogo entre Chelsea e Liverpool, disputado nesta terça-feira, foi agendado pela Uefa após pedido do clube para que a definição do semifinalista da Liga dos Campeões não fosse realizada no dia do incidente.
"A data é muito respeitada por todos no clube. O Liverpool fez um pedido à Uefa para que, se fosse possível, não tivéssemos jogo nesta data, e houve muita sensibilidade em atendê-lo. Acredito também que nenhum torcedor se sentiria a vontade em ir ao estádio neste dia", explica o volante. A própria torcida do Liverpool criou um memorial dedicado ao episódio de Hillsborough, em Anfield, que desde então é decorado com flores e outros tributos.
O episódio foi o estopim para mudanças profundas no futebol inglês. A maior delas foi a retirada da grade que separava fãs e jogadores, segundo Lucas, algo fundamental para os torcedores aproveitarem todos os detalhes do jogo. "Isso tudo depende da educação do torcedor em não invadir o campo. Penso que fica muito melhor, porque ele pode aproveitar muito mais o jogo. Por estar mais próximo dos seus ídolos, o espetáculo torna-se mais bonito e emocionante", afirma o ex-jogador do Grêmio.
Em seu primeiro ano na Inglaterra, Diego Cavalieri já sabe o quanto o tema é importante para os torcedores do Liverpool. "Esse é um assunto muito respeitado, até porque essa data marcou a história do clube. Todo ano, a torcida e o clube prestam homenagens às vítimas. É uma data emotiva e de luto para todos na cidade também", explica o goleiro ao
UOL Esporte. Cavalieri mostra solidariedade com a tragédia. "Certamente tudo isso é lembrado com muita tristeza pelos ingleses e eu me solidarizo com eles".
Desde 2004 como treinador do Liverpool, Rafael Benítez é um dos participantes mais importantes nas solenidades relativas à tragédia. O espanhol diz ter aprendido muito sobre o episódio desde que chegou ao clube. "É importante não só para os jogadores do meu clube, mas para que todo o mundo do futebol lembre. O Liverpool sempre apoiará as famílias. Desde que cheguei, aprendi muito sobre o que Hillsborough significa para as pessoas", encerra.
* Atualizada às 11h. Com agências internacionais UOL Busca - Veja o que já foi publicado com a(s) palavra(s)